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“O tecido empresarial está a reagir positivamente”

1 Set

Fernando Castro, presidente da Associação Industrial do Distrito de Aveiro (AIDA), traça o retrato empresarial da região, seus desafios e potencialidades.

– A AIDA é uma hoje uma associação representativa, mas também um centro de serviços aos empresários.

A associação existe há 30 anos. Abrange todo o distrito, que por força da reorganização administrativa deu lugar às NUT. Mas continuamos a representar estatutariamente os 19 concelhos do distrito.  Tudo fazemos para prestar o apoio que os empresários precisam. São cerca de 900 sócios, fundamentalmente do sector industrial. Desde apoio a internacionalização, licenciamentos, formação profissional, etc. Na sede, em Aveiro, acolhemos ainda outras entidades, como o IAPMEI, um cartório notarial, complementam a nossa função. Para além de um balcão da CGD.

– Vem do sector vinícola para acompanhar a indústria. Esta realidade da região, da metalomecânica, das ferragens ou da cerâmica, tantos outros, surpreendeu-o?
Não me era totalmente alheia, mas não conhecia as especificidades, por exemplo, da fileira das madeiras, do habitat, dos plásticos, por exemplo. Mas tinha noção da potencialidade do distrito.

– Aveiro já não é o distrito do pleno emprego. Mas a diversidade dos sectores ajuda a manter altos níveis de empregabilidade e a superar melhor as dificuldades.
Sim, é isso que queremos manter e, se possível, com muito mais força. O tecido empresarial está a reagir positivamente. A cerâmica e o habitat, que eram muito fortes, sentiram a crise do imobiliário e da construção. Está muito sacrificado. Mas quem tinha já contactos bons no mercado externo está a procurar dar a volta.

– Aveiro tem empresas muito exportadoras.
Temos bastantes exportadoras, mas precisávamos de ter mais.
Em dimensão, no foge à média nacional, dominando as pequenas e médias empresas. Explorar os mercados externos, em termos de organização e produção, é muito difícil.
Estamos numa economia cada vez mais globalizada. É preciso ter uma boa relação preço / qualidade para competir. Por vezes, recorre-se ao estrangeiro para produzir em alternativa, mantendo-se cá o centro de decisão. Por ser uma alternativa adequada.

– Quando vê a Bosch a trazer para Aveiro um centro de desenvolvimento e investigação para todo o grupo fica satisfeito?
Muito satisfeito, muito expetante. Não vai gerar muitas centenas de empregos, mas usa mão-de-obra qualificada. Acrescenta valor ao que se produz. Uma esperança para os nossos licenciados.
Portugal tem muitos exemplos de empresas que quando bem geridas, de capitais estrangeiros e nacionais, são altamente competitivas. A nossa mão-de-obra tem qualidade e competências, os nossos engenheiros são apreciados cá dentro e lá fora.

– A Economia do Mar, que está muito ligada a Aveiro, pode alavancar mais empresas para a região.
O sector das pescas é muito peculiar, está condicionado pelas quotas da União Europeia. Foi de grande pujança, hoje estamos a importar imenso por força da conjuntura em que nos tivemos de integrar. Temos de aproveitar as oportunidades que vão surgindo, nas negociações, para defender os interesses nacionais.
Mas o mar não se esgota nas pescas, fala-se muito na Economia do Mar, surgem sinais positivos, não tão célere. No entanto, vemos estaleiros a reativar a atividade, a prospeção dos fundos oceânicos, com a extensão da plataforma continental. Pode abrir perspetivas imensas. Para não falar na atividade dos portos, com grandes investimentos, que tem contribuindo para as exportações aumentarem.

– A sua Bairrada, é desta que se assume no contexto nacional?
Tem uma grande tradição vitivinícola e sofrido as vicissitudes dos  mercados. Deixámos de ter as colónias, enfrentámos a concorrência europeia. Mas houve uma evolução muito positiva e a Bairrada não ficou atrás. Fizeram-se coisas boas e coisas más. Foi das primeiras regiões, depois sofreu a concorrência de outras que foram sendo criadas. Temos especificidades de clima, de solos, onde domina o minifúndio. Tem problemas, mas dá a possibilidade de fazer vinhos completamente diferentes, escolhendo bem as castas para ter a melhor produção. O caminho está a ser feito. Os nossos produtos têm vindo a colher os devidos ensinamentos. Estão atentos às exigências dos mercados externos e a concorrência. Existem sinais positivos. A Bairrada cresceu no último ano cresceu nos espumantes e vinhos tranquilos em litros certificados. Com bons exemplos de produtores, reconhecidos internacionalmente. Ter um vinho branco como melhor do mundo, entre milhares, no maior certame mundial, é um feito. Conquistar medalhas e pontuações altíssimas são factos relevantes. Isso dá ânimo e confiança aos produtores para produzir melhor. Paulatinamente, fazendo crescer a produção.

– O reajustamento imposto pela troika vai fazer bem ao País?
Temos de aprender com o mal que foi feito, as facilidades são cada vez menos, evitar o máximo de desperdício. Fomos forçados a pedir o apoio externo. Temos de tirar os devidos ensinamentos e não cometer os mesmo erros.
As empresas sofreram, algumas não resistiram. As que ficaram estarão em melhores condições. Estamos a caminhar para uma época em que os combustíveis relativamente baixos, os juros baixos e não falta financiamento. Existem condições para desenvolver negócios.

– Fica surpreendido com o exemplo do calçado?
Investiram no design e na qualidade. Produzir barato com mão-de-obra barata revelou-se que não era futuro. Foram derrotados internacionalmente. Depois incorporaram mais valor para ganhar mais mercado. É um grande exemplo do que devemos fazer.

– Chega aí uma nova vaga de fundos europeus, o Portugal 2020. Uma oportunidade muito relevante, dirigida para as empresas sobretudo.

As empresas têm de estar muito bem preparadas, os critérios são muito mais exigentes, são fundos reembolsáveis. Têm de ser projetos com retorno para não serem penalizadas. Se atingirem objetivos terão prémios. Mas é um calcanhar de aquiles. As empresas estão endividadas, podem afastar-se destas oportunidades. Precisam de se recapitalizarem.

– Como vê o grande debate e algumas decisões do acesso ferroviário a Espanha.
Espero que avancem investimentos, mas estou como São Tomé.
No grupo de trabalho das Infra-estuturas de Elevado Valor Acrecentado, o corredor Aveiro – Vilar Formoso apareceu como um remendo e fora das prioridades. Fazer umas obras de reconstrução da Linha da Beira Alta a Pampilhosa, sem beneficiação do troço da plataforma de Cacia à Pampilhosa. Transformar uma linha velha com o exemplo do que aconteceu na linha do Norte ?
Isto é estratégico para o País. É na região Centro / Norte que tem origem mais de dois terços das exportações. Parte da Galiza serve-se da A25 para escoar e abastecer. A via férrea tem interesse para dar resposta às necessidades das empresas onde estão maioritariamente concentradas. Tem toda a razão de ser. Os fretes rodoviários estão a ficar mais caros, pela fiscalidade verde, o preço dos combustíveis e não se vê interesse em captar movimento para a linha férrea. Veja-se o caso da PSA de Mangualdade, que necessita de comboio para escoar a produção. Se não houver resposta, pode ser deslocalizada para Vigo. É um dos exemplos. Temos uma zona industrial forte em Oliveira de Frades. Aveiro tem o seu porto com excelentes condições.

 

 
Ciclo de entrevistas “As Vozes da Ria” 
Fonte: www.noticiasdeaveiro.pt

 

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